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quinta-feira, 31 de maio de 2012

Incentivo ao consumo traz riscos

Brasília (AE e ABr) - Diante do desempenho fraco da economia, o governo decidiu pisar no acelerador e anunciou na última segunda-feira um pacote R$ 2,7 bilhões para estimular o consumo, principalmente o de automóveis, e a aquisição de bens de capital Assim como fez na crise de 2008 e 2009, o Planalto cortou impostos, liberou mais dinheiro para empréstimos e reduziu os custos de linhas de financiamento. Segundo o ministro da Fazenda, Guido Mantega, as medidas são resultado de um compromisso "inédito" assumido entre governo, setor produtor e setor financeiro.
Elza FiúzaCom menos juros e imposto o setor de veículos atrai o consumidorCom menos juros e imposto o setor de veículos atrai o consumidor

Para o economista Carlos Eduardo Freitas, ex-diretor do Banco Central (BC) e professor licenciado da Fundação Getúlio Vargas (FGV), as medidas de incentivo ao crédito não vão, porém, estimular a economia e podem ser prejudiciais à saúde financeira da população. A preocupação, diz ele, é com o endividamento da população em um momento de ritmo lento do crescimento econômico, que o governo quer reverter com seu pacote de estímulos.

Entre as medidas anunciadas pelo governo, estão a redução do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) na compra de veículos e o desconto no Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) em qualquer tipo de operação de crédito à pessoa física.

"O governo está induzindo o povo a se endividar, o que pode ser prejudicial para a saúde financeira. Isso em um momento no qual a inadimplência cresce muito", disse Freitas, que foi diretor de Assuntos de Reestruturação do Sistema Financeiro Estadual,  diretoria depois transformada em Liquidações e Desestatizações, do Banco Central, de agosto de 1999, na presidência de Armínio Fraga, até maio de 2003, com Henrique Meirelles.

Na apresentação do pacote, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, disse que as medidas não provocarão o aumento da inadimplência nem da inflação. Segundo ele, a criação de empregos e a redução de juros farão com que o aumento do investimento seja acompanhado da expansão do consumo.

Ainda na avaliação do ministro, o aumento de renda dos trabalhadores e a entrada de novos empregados formais no mercado impedirá que os consumidores percam o controle e deixem de pagar as prestações.

Para Freitas, no entanto, não há um diagnóstico claro da situação econômica do país, que enfrenta efeitos da crise internacional, e, com isso, o governo tenta reagir, com "atitudes pontuais". Segundo o economista, um dos motivos que levou o governo a adotar as medidas foi a expectativa de que a economia vá crescer pouco este ano.

Apesar da crise econômica externa, a expectativa do economista é que, em dois ou três anos, o cenário mundial melhore, o que deve ajudar o Brasil. Para ele, os Estados Unidos, "que desempenham papel importante na demanda mundial", estão gradualmente saindo da crise, e a Europa, apesar da situação mais complicada, deve encontrar uma solução "organizada" para os problemas de endividamento dos países. "Com isso, a China deverá voltar a funcionar", acrescentou.

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