O pobre que vota em ricoAutor: Crispiniano Neto
O rico só trata o pobre
No chicote e no trabuco
Eu achei certo um rapaz
Que me disse em Pernambuco
Garanto, provo e explico
Que o pobre que vota em rico
Além de pobre é maluco.
O pobre hoje só vive
Imprensado e oprimido
Por isto o pobre que vota
Pra ver um rico crescido
Apanha mas não se ajeita
É como a mulher que aceita
Apanhar do seu marido.
Quando um pobre só tem
Dois ricos para votar
Fica com o boi que vai
Pra vaquejada penar
Não tem vantagem pra ele
Que os dois que vão atrás dele
Só querem lhe derrubar!
Tem muito pobre que vive
Sem ter um lugar ao sol
Mas vota por mixaria
Chinelo, roupa e lençol.É como o peixe que arrisca
Saborear uma isca
Mas abocanha um anzol!
Rico atrás de voto, adula
Visita fora de hora
Eu comparo com o morcego
Que chia, abana e se escora
E se o bicho perde o sobrosso
Ele fura no pescoço
Chupa o sangue vai embora!
O rico na eleição
Faz do pobre uma galinha
Que estando perto de por,
O dono ajeita e aninha
Mas quando ela solta o ovo
Ele segura de novo
Mete-lhe o pau, na cozinha!
Político “Copa do Mundo”
Vem de quatro em quatro anos
Com dinheiro compra votos
E o povo comete enganos,
Já é hora de deixar
De eleger quem quer votar
Pra derrubar nossos planos.
Tem agricultor que vota
Em gente milionária
E o rico depois de eleito
Bota o gado em sua área
Vai embora pra Brasília
Luxar muito com a família
E ser contra a reforma agrária
O motorista de táxi,
Ônibus, Scânia ou Belina
Votando no empresário
Tá cumprindo a triste sina
Não vê que nesse momento
Vota a favor do aumento
Do preço da gasolina.
O operário na fábrica
Dá o duro, passa mal
Luta igual um bicho e sofre
Arrocho salarial
Vota no rico e não vota
Que o rico eleito só vota
A bem do industrial.
Pedreiro e servente mora
Em choupana e faz mansão
Vota cego, elege o rico
Mas depois da eleição,
Na própria mansão que fez
Só entra com acanhez
Pra não manchar o chão!
A dona de casa vê
Preço subir todo dia
Mas ainda se arrisca
A votar na burguesia
Faz isso sem estar notando
Quando poder está dando
Aos chefes da carestia.
O homem desempregado
Pensando arranjar sossego
Às vezes dá voto em troca
De promessa de emprego
Ele nem presta atenção
É quem gera o desemprego.
Por isto agora em convoco
Branco, preto, velho e novo
Pra quando o rico pedir
Responder: não lhe promovo
Por que me deu um palpite
Que passou a vez da elite
E agora é a vez do povo!
Já é hora de eleger
Agricultor e operário
Ou mesmo alguém conheça
O nosso sofrer diário
Que vá lutar todo dia
Pra frear a carestia
E aumentar o salário.
O voto é a maior arma
na guerra da decisão;
Por isto, eleito se torne
Um guerreiro na eleição
Se arme com o seu título
Pra findar mais um capítulo
Da história da escravidão.
Rico pra pobre é igual
Ao lobo para o cordeiro
Ao cachorro para o gato
À seca para o roceiro
É como o diabo pra cruz
E a gente ou serve a Jesus
Ou se entrega ao dinheiro!
Agora em nosso país,
Meu distinto companheiro
Mudou tudo na política
E os homens que têm dinheiro
Continuam, se juntando
Pra se manterem explorando
O trabalhador brasileiro.
O voto é a carabina
A eleição é a guerra
A urna é como a trincheira
Bem feita no pé da serra
Dali você, brasileiro,
Secreto, atire certeiro
Pra libertar nossa terra!
E o pobre que não entende
Que unido é uma potência
É pobre mil vezes pobre,
É pobre de inteligência,
É pobre de natureza
E, além de pobre em riqueza,
É pobre de consciência!
Um dito popular diz:
“Um dia macaco é gente”
Então, quem vive sofrendo
Nas garras do prepotente
Vivendo vida de bicho
É vez de sair do lixo
Pra viver independente!
Mossoró 20/04/1980.
Fonte:www.crispiniano.com.br/
Nenhum comentário:
Postar um comentário